O dia escurece e eu escureço com o dia. Esta espera de qualquer coisa que talvez não venha hoje, nem amanhã, qualquer coisa que talvez já tenha acontecido e eu não reparei… mas espero, enquanto o dia escurece, espero. Esta inquietação… Sei que é só um dia, ou dois, sei que ontem também esperei e que quando me deitei escrevi sobre isso. Mas não é ninguém nem qualquer outra coisa, é só esta espera vazia de que fujo todos os dias. Todos os dias tento não esperar, tento me entreter, ponho o radio muito alto e nas partes em que a música explode grito também, e no grito sou eu inteiro de braços esticados para o mar e a minha boca é transformada na janela desta prisão que o meu corpo se tornou. Hoje não tomei nada, por isso também não me penteei, nem pus a camisa para dentro, saí à rua a falar alto com as pessoas, é da maneira que elas olham para mim e percebem que estou aqui, forte! O meu vizinho passou por mim, eu enchi o peito e disse bem alto: Boa Tarde!! Não sei bem o que ele respondeu, mas o meu “boa tarde” foi dos melhores e mais normais que já consegui.
Normalmente a noite sabe mais coisas do que aquelas que nos diz. Oferece-nos no entanto aquela confiança de quem sabe tudo e isso é bom para os mais desatentos. Os mais desatentos são mais felizes à noite porque acham que o que a noite diz é tudo o que ela sabe, mas não é, ela sabe mais coisas do que nós, coisas que não diz.
Tiago na toca é um projecto à parte. Não é um disco, ou um livro, ou um personagem. É apenas o nome que dei ao conjunto de experiências que faço por intuição ou acaso, separadas dos meus discos de carreira: gravações independentes, propostas que aceito, desafios a que me proponho criativamente como exercícios, produções low fi sem o dedo polidor da produção dos dias que correm. A conceito será o abrir de uma janela mais pessoal e directa para dentro de “minha casa”. Através de pequenas edições ou apenas gravações postas na internet, vou mostrando os “out takes” do tempo que corre entre CD´s.
No fundo gostava que este projecto se caracterizasse por não ter qualquer definição. Será o que for, nas alturas em que acontecer, como tiver que acontecer.
Este “Tiago na Toca e os poetas” é um conjunto de poemas que musiquei juntamente com algumas versões que gravei no verão de 2008, entre os meus álbuns “O Jardim” e “Em Fuga”. A ideia foi despoletada por um poema que ouvi cantado pelo Camané chamado “o lenço”, o qual musiquei de novo e me trouxe a ideia de fazer todo um álbum de palavras que não eram minhas. Assim, comecei a minha pesquisa pelos poetas que me fizeram começar as escrever. Poetas antigos, poetas também do fado que tanto me moldou. O desafio de desvendar emoções, de lhes dar sons, harmonias, novas roupagens... e para isto usar o espaço, a captação descomprometida, o improviso, o instinto. As gravações foram feitas na sua maioria em minha casa, com um ou no máximo dois microfones. Convidei pessoas que admiro e músicos com quem gosto de tocar. Sem ensaios, foi surgindo um dos projectos mais profundos que gravei, pelas cumplicidade, pela naturalidade das participações, pela simpatia de quem me visitou. Este álbum não é para ser gritado e vendido à porta das pessoas. É um álbum discreto, sereno, como um segredo.
Nasceu depois a ideia de fazer um cd/livro que materializasse o projecto de forma especial. Conheci então algures por Lisboa o Mário Belém cujo trabalho me fascinou e quem acabei por convidar para entrar nesta aventura. Juntos fomos percebendo de que forma poderia ser feito este objecto, fomos visitar alfarrabistas, fui buscar edições antigas de livros de poemas que tinha cá por casa. Tudo o resto foi o Mário e todo o seu talento. Podem saber mais sobre o seu processo criativo no site dele que vos convido desde já a visitar www.mariobelem.com . O Tiago na toca deixou de ser apenas um álbum de musica e passou a ser um objecto único, limitado, especial.
Recebi ontem as primeiras edições e fiquei comovido com cada pormenor: desde o papel, ao toque, ao cheiro, desde as ilustrações até ao pequeno envelope que contém o CD, tudo perfeito. Cada poema está acompanhado de um texto escrito por mim com o relato de cada gravação. O meu pai escreveu um prefácio. Este projecto é fruto da simpatia, dedicação e inpiração de muita gente e a todos estou grato.
Assim, embora com 2 anos e tal de atraso, o disco ficou pronto.
Espero que gostem, espero que queriam este "Tiago na Toca e os Poetas" em vossa casa.
Todo o lucro das vendas irá reverter para a associação Ajuda-me a Ajudar: http://ajudameaajudar.org/
Dia 18 de Dezembro está nas lojas! Quem puder, tente não piratear sff...
Aqui vai o alinhamento e os convidados:
Tiago Bettencourt
Há este vazio gigante nas pessoas, cada vez mais, cada vez mais se vê à vista desarmada, um vazio gigante, interior, dentro de toda a gente, dentro de quase toda a gente. Não é da crise, não é do tempo, não é do principio do ano... é tudo junto, é o mundo inteiro a ser demais, a ser demasiado falso para a nossa fraqueza, para a parte humana de nós. Por maior que toda a maldade humana natural seja, esta mentira em massa em que nos enterramos é demais para nós, todo este egoísmo pesa-nos, perde-nos, corrói-nos. Como um mundo expele a própria matéria, estamos fartos de nós, dos truques e meias verdades, da ignorância, da preguiça, da ganância, dos trabalhos, das carreiras, de tentar mostrar que somos qualquer coisa, de haver problema de não ser nada, ainda, de não haver paz, nunca haver paz, do dinheiro, de nos esquecermos do nosso principio, antes de nós, antes desta selva, antes deste lixo que nos rodeia, todos estes aparelhos e construções, destas roupas e protecções, que já existimos fora deste mundo, ou desta guerra de dois mundos, o interior e o exterior em que o exterior está claramente a ganhar e a rir-se nas nossas caras desesperadas... não nos lembramos que não precisávamos realmente de muito para efectivamente nos sentirmos felizes...
Eu esperei
mas o dia não se fez melhor
e o sujo não se quis limpar,
inventou mais flores em meu redor
como se eu não fosse olhar!
Enfeitou as ruas para cobrir
terra seca de não semear
deram-me água turva a beber
dizem cura e força e solução
como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
mas o fumo não saiu da estrada
Arde o sonho em troca de nada
Dizem festa, mas é solidão
como se eu não fosse olhar!
A mentira não se fez verdade
e a justiça não se fez mulher
A revolta não se fez vontade
Braços novos sem educação
sangue velho chora de saudade!
Eu esperei
dizem luta mas não há destino
dão-me luzes mas não é caminho
dizem corre mas não é batalha
como quem não quer mudar!
Esta corda não nos sai das mãos
esta lama não nos sai do chão
esta venda não deixa alcançar.
cantam “armas” mas não é amor
mão no peito mas não é amar
fato justo mas sem lealdade
cavaleiro mas já sem moral
braços sujos que se vão esconder
braços fracos não são de lutar
braços baixos não se querem ver
como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
pelo tempo transparente em nós
pelo fruto puro de escolher
pela força feita de alegria
mas o povo dorme na ilusão!
e a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão...
Meu Deus, livra-nos do mal
e acorda Portugal...
Há uma altura em que deixamos de ser poetas. Não por falta de inspiração ou preguiça, mas por haver palavras a mais a serem escritas e pouco espaço livre no universo no meio de tanto desespero por algo profundo. Todos passamos por lá, uns mais tarde que outros: a altura de dar sentido ao percurso. E se o percurso não tem sentido, inventa-se! Há uma altura em que todos querem ser poetas, há uma altura em que temos que deixar o barulho serenar.
Sábado chegámos ao fim da nossa mini tour de seis datas de apresentação do novo álbum. Quero muito agradecer a todos os que vieram encher as salas por onde passámos, pelo carinho e incentivo. É muito importante para nós a vossa atenção e apoio. Todos os nossos concertos dependem da ligação que se cria entre banda e publico e nestes seis espectáculos todos vocês nos ajudaram a perceber por que caminho podemos seguir nos próximos tempos. Obrigado a quem nos acolheu tão bem nos auditórios, a quem nos deu atenção, a quem ouviu e esteve connosco em cima de palco. A todos os que nos vieram dar um abraço de agradecimento no fim. Porto, Aveiro, Idanha a Nova, Santarém, Guimarães e Lisboa, muito obrigado.
Esta semana somos numero 1 no top de vendas. É uma semana feliz.
Espero que estejam a gostar do álbum.
Um grande abraço.
Tiago
ora bem: eu também andava meio confuso mas acho que já percebi tudo. Os bilhetes para os concertos nesta altura só vão estar à venda no proprio dia do concerto, no local do concerto, sendo que o bilhete é também o cd o que é bom porque quam ainda não tem fica com um e quem tem fica com outro para dar a algum ente querido.
Espero que estejam a gostar do album e também do DVD.
abraços e obrigado a todos e até amanhã no Sá da Bandeira no Porto!
PS: ...quando me deixarem parar de dar entrevistas prometo voltar a escrever qualquer coisa de jeito neste blog, porque nesta altura só quero é dormir...
então é assim meus amigos:
Segundo percebi hoje, o album (edição especial com DVD) em pré-venda é 13 euros e tal e para a semana já é 17 e mais uns tal.
Quem compra em pré-venda tem direito ao bilhete do concerto. Os senhores da fnac têm lá uma lista dos concertos com uns codigos e quando se compra escolhe-se o concerto a que se quer ir. Nos dias dos concertos também deve haver bilhetes à porta se não esgotarem sendo que também levam um cd (já sem DVD) mesmo que já o tenham, ou seja, o album é o bilhete.
penso que é isto...
PS: o album está esta semana a passar no myspace... pelo menos um minuto de cada musica só para provocar...
Para quê esperar para copiar? isso é batota!
Aqui têm todas as informações e umas quantas surpresas.
Gostava de vos ver a todos nos concertos de apresentação.
http://fnac.pt/pt/Catalog/Detail.aspx?cIndex=1&catalog=discos&categoryN=Música&category=portuguesaPopRock&product=602527355177
Obrigado e um bom fim de semana!
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