Domingo, 23 de Janeiro de 2011

Sobre a apatia:

 

 

Há este vazio gigante nas pessoas, cada vez mais, cada vez mais se vê à vista desarmada, um vazio gigante, interior, dentro de toda a gente, dentro de quase toda a gente. Não é da crise, não é do tempo, não é do principio do ano... é tudo junto, é o mundo inteiro a ser demais, a ser demasiado falso para a nossa fraqueza, para a parte humana de nós. Por maior que toda a maldade humana natural seja, esta mentira em massa em que nos enterramos é demais para nós, todo este egoísmo pesa-nos, perde-nos, corrói-nos. Como um mundo expele a própria matéria, estamos fartos de nós, dos truques e meias verdades, da ignorância, da preguiça, da ganância, dos trabalhos, das carreiras, de tentar mostrar que somos qualquer coisa, de haver problema de não ser nada, ainda, de não haver paz, nunca haver paz, do dinheiro, de nos esquecermos do nosso principio, antes de nós, antes desta selva, antes deste lixo que nos rodeia, todos estes aparelhos e construções, destas roupas e protecções, que já existimos fora deste mundo, ou desta guerra de dois mundos, o interior e o exterior em que o exterior está claramente a ganhar e a rir-se nas nossas caras desesperadas... não nos lembramos que não precisávamos realmente de muito para efectivamente nos sentirmos felizes...

 

 

 

 

Eu esperei

mas o dia não se fez melhor

e o sujo não se quis limpar,

inventou mais flores em meu redor

como se eu não fosse olhar!

Enfeitou as ruas para cobrir

terra seca de não semear

deram-me água turva a beber

dizem cura e força e solução

como se eu não fosse olhar!

 

Eu esperei

mas o fumo não saiu da estrada

Arde o sonho em troca de nada

Dizem festa, mas é solidão

como se eu não fosse olhar!

A mentira não se fez verdade

e a justiça não se fez mulher

A revolta não se fez vontade

Braços novos sem educação

sangue velho chora de saudade!

 

Eu esperei

dizem luta mas não há destino

dão-me luzes mas não é caminho

dizem corre mas não é batalha

como quem não quer mudar!

Esta corda não nos sai das mãos

esta lama não nos  sai do chão

esta venda não deixa alcançar.

cantam “armas” mas não é amor

mão no peito mas não é amar

fato justo mas sem lealdade

cavaleiro mas já sem moral

braços sujos que se vão esconder

braços fracos não são de lutar

braços baixos não se querem ver

como se eu não fosse olhar!

 

Eu esperei

pelo tempo transparente em nós

pelo fruto puro de escolher

pela força feita de alegria

mas o povo dorme na ilusão!

e a tristeza é forma de sinal

Liberdade pode ser prisão...

Meu Deus, livra-nos do mal

e acorda Portugal...

 

 

 

 

 

 

publicado por Tiago Bettencourt às 01:13
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23 comentários:
De Algures a 23 de Janeiro de 2011
Brilhante!
De Twikah a 23 de Janeiro de 2011
No mesmo registo com que habituaste o teu público, tive o prazer de ler mais um riquíssimo post. Gostei bastante, pois ainda que o tema não seja feliz ou reconfortante, foi bom verificar que há mais pessoas a ver o mesmo que eu quando se olha para as multidões de hoje em geral. Pode ser só da minha perspectiva mas sim, as pessoas esqueceram-se. A apatia ou como eu preferiria chamar, a inércia e a futilidade, crescem com o crescimento das gerações. É assustador.

Para terminar, eu só tirava o deus disto tudo.

Cumps, T.
De Tiago M. a 23 de Janeiro de 2011
Neste regresso do silêncio, brilhante poema e reflexão.
De Daniela Barreira a 23 de Janeiro de 2011
grande! :)
De fotografiaspoeticas a 25 de Janeiro de 2011
...e os olhos abriram -se ainda mais, quando vi que o Tiago Bettencourt, não é o só o artista , o que canta poesia, mas o que sente a poesia atravessando-a com os dardos da verdade que nos come e nos consome.
...e parei e li " Só mais uma vez"!
...e dei "Só mais uma volta"
E" Parece que o destino nos quebrou"
..."Neste espaço impossível"
Deve ser um SER extraordinário!
Obrigada!
manuela barroso
De Paulo Nunes a 26 de Janeiro de 2011
Tiago,
Antes demais parabéns.
Como posso contactar-te com vista a um pequeno concerto no meu bar?
Fico à espera de um feedback (pjn2003@sapo.pt ou 968189202)
Obrigado e até breve
De abebedorespgondufo a 28 de Janeiro de 2011
Somos teus fãs. Visita o nosso blog. Esperamos que um dia vás tocar à nossa terra.
De Ula a 31 de Janeiro de 2011
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

obrigada, Tiago.
De Débora a 24 de Fevereiro de 2011
Olá, Tiago! Tudo bem???

Olha, sou do Brasil e conheci seu trabalho por uma coincidência incrível. Espero um dia poder falar-lhe sobre ela (:
Além das canções belíssimas, também tens um blog e escreve lindamente! Isso me encanta.

Además, gostaria de saber quando virá ao Brasil para um show.. Seria incrível! E também queria saber onde posso comprar seus cds . Não acho em nenhuma loja da minha cidade (Salvador - Bahia ). Manda-me um email respondendo essas questões, se puder lari_sramos@hotmail.com ); Eu ficaria muito feliz.

Um enorme beijo dessa tua fã um pouco distante que muito lhe admira..

Débora Ramos.
De sara a 25 de Fevereiro de 2011
tens toda a razao.
bjs

ps.obrigada pela partilha

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