Ando aqui há uns dias sem saber por onde ir. Não percebo exactamente por onde se começa ou como se fala disto… Tudo à nossa volta grita a chegada a um limite qualquer que parece não chegar, anúncio de chegada esse que parece não mudar ninguém. Ninguém se importa, ou todos ignoram, ou ninguém quer ser incomodado. Sabemos que a consciência global tem que evoluir, mas queremos aguentar esta ordem de prioridades até não haver outra hipótese possível. Estamos na internet, no mundo inteiro, no Facebook, escrevemos mil citações de verdades universais que esquecemos no segundo a seguir, assistimos a vídeos que nos gritam novos horizontes mas não tiramos conclusões. Vemos televisão, as noticias preocupam-nos, irritam-nos ou inspiram-nos, entristecem-nos ou comovem-nos… mas quando nos questionam, fingimos não perceber. Sabemos que o mundo é como mar onde as ondas se propagam, vemos povos a lutar por justiça, por liberdade, mas não agimos perante a nossa própria prisão: Uma prisão de valores, onde nos orientamos por metas vazias, onde vazios caminhamos, devagar, sem paixão. Esquecemos a nossa educação, a nossa cultura, a nossa essência; queremos ser outras pessoas, ter outras coisas, outro dinheiro, outra vida, outros amigos, a opinião de outros… não acreditamos no tempo, não acreditamos na persistência, não acreditamos naquilo que é nosso. Sabemos que valemos muito mas não sabemos quanto valemos, não vamos à procura de saber, não sabemos como saber, não temos paciência para aprender e ir até ao sitio onde se percebe quanto se vale. Não temos paciência para acreditar e no meio disto tudo, temos sempre “Esperança”. Mas que esperança é esta? Esperança de quê? De chegar onde? Para que serve? Não faltará, antes da esperança, a consciência de um fim? Um alvo profundo para apontar a seta? …é por estas razões que é tão difícil para mim escrever sobre isto nesta altura. Se há esperança? Sim, acredito que há, sempre. Mas será da certa? Olho à minha volta e cada vez mais vejo que procuramos nos sítios errados qualquer coisa que o mundo não nos pode dar, qualquer coisa imaterial, que precisamos, e nos anuncie um novo tempo, uma nova Esperança: A esperança que o lado bom, finalmente se sobreponha ao lado mau. A esperança que quando se escolher, se escolha bem. Esperança que a gratificação interior da honestidade se revele mais sedutora que a sujidade mascarada do desvio, que a serenidade da certeza no caminho derrote esta busca frenética e desesperada pelo sucesso. Que a publicidade do “custe o que custar” seja também para bem do outro. Que o ser Humano seja uma qualidade e nunca uma fraqueza. Sei que a mudança tem que começar no interior de cada um, sozinho. A esperança tem que ser de mim para mim, tenho que ser eu a mudar e a mostrar essa mudança ao próximo e ao mundo, no trabalho, em família, nos dias. Uma esperança humilde de quem é tudo o que consegue ser, sem arrependimento ou rancor. Deixemo-nos desta esperança confortável, egoísta e preguiçosa. Esperança tem que ser o momento exactamente antes da acção, esperança tem que me fazer dar o passo, o passo para um vazio de luz, o passo fruto do investimento, da perseverança, de uma fé. Para lá do cansaço o passo que tem que ser dado. O passo que se agradece de joelhos por afinal nunca estarmos sós. Não têm que ser os outros, tenho que ser eu.
O dia escurece e eu escureço com o dia. Esta espera de qualquer coisa que talvez não venha hoje, nem amanhã, qualquer coisa que talvez já tenha acontecido e eu não reparei… mas espero, enquanto o dia escurece, espero. Esta inquietação… Sei que é só um dia, ou dois, sei que ontem também esperei e que quando me deitei escrevi sobre isso. Mas não é ninguém nem qualquer outra coisa, é só esta espera vazia de que fujo todos os dias. Todos os dias tento não esperar, tento me entreter, ponho o radio muito alto e nas partes em que a música explode grito também, e no grito sou eu inteiro de braços esticados para o mar e a minha boca é transformada na janela desta prisão que o meu corpo se tornou. Hoje não tomei nada, por isso também não me penteei, nem pus a camisa para dentro, saí à rua a falar alto com as pessoas, é da maneira que elas olham para mim e percebem que estou aqui, forte! O meu vizinho passou por mim, eu enchi o peito e disse bem alto: Boa Tarde!! Não sei bem o que ele respondeu, mas o meu “boa tarde” foi dos melhores e mais normais que já consegui.
Normalmente a noite sabe mais coisas do que aquelas que nos diz. Oferece-nos no entanto aquela confiança de quem sabe tudo e isso é bom para os mais desatentos. Os mais desatentos são mais felizes à noite porque acham que o que a noite diz é tudo o que ela sabe, mas não é, ela sabe mais coisas do que nós, coisas que não diz.