Foste bater à porta mais uma vez não foi? Tu só querias ver, mas principalmente querias ver-te a ser olhado. Não querias ser tu a chamar… mas há noites mais fracas… A “outra parte” apareceu em tua casa com a força de sempre de repente e olhou para ti. Tal foi a intensidade deste acontecimento, tal foi a maneira como recebeste esse abraço, a novidade da recordação explosiva, que sem falar perguntaste:
-- Já sabes para onde queres ir?
Ainda que não pelas tuas palavras, perguntaste, ainda que não com estas palavras, a pergunta foi esta, depois do tempo tentar esquecer tudo, a pergunta tinha que ser essa… Como nos filmes, o silêncio do antes, a pausa. Sentiste a “outra parte” a tremer e a pôr mais uma vez tudo em causa, tudo o que sempre existiu, tudo o que sempre foi a verdade da outra parte, tão solida como o chão. A “outra parte” sussurra… Continuas a ouvir a “outra parte” a perguntar se a tua mão é real, se aconteceu mesmo a historia em que o mundo se desdobrou e vos mostrou um jardim novo, por outro lado, na possibilidade de mudar. Sentiste a “outra parte” mais uma vez cansada, como já a sabias, com sede de ti como tu também, dela. Sentiste a outra metade a tremer do fundo de onde vinha a voz, do lado longe, a chamar, vinha também a névoa, mas essa é feita de água como o que se escreve... disseste: -- Afinal existimos mesmo. Afinal lembras-te Afinal sentes tudo, Afinal ouves, ouviste mesmo afinal tens medo de mim também. E agora? Agora que sabemos disto outra vez? Vais adormecer nessa espécie de pântano? Nesse vapor? Nesse disfarce? Na fraca segurança da fraca certeza? há muito que nunca te chega... E agora?
Estive no concerto da guarda, deste sábado… Deixei passar o tempo para que ganhasse alguma distância sobre aqueles momentos… Mesmo passados estes dias a sensação permanece.
Sensação de … encantamento. Foi uma viagem bela, intensa, inquietante ao ponto de não conseguir estar encostada na cadeira, que não me deixou chegar à cama nessa noite e adormecer sem que o desejo de mais, me deixasse. Sei que não vou conseguir traduzir nas palavras a dimensão daqueles minutos, sons imagens para mim, mas posso dizer que tenho vontade, muita de mais, que aqueles momentos continuam em mim e todas as músicas ganharam uma dimensão diferente em mim.
Gostei muitooo… do esforço que fizeste, sobretudo no início em comunicar, em quebrar o gelo (mesmo que não conseguisses olhar de frente o público), é sinal de dedicação. De sentir que as musicas que preenchem os meus dias existem daquela forma, encantadora, não sei explicar a dimensão disto em mim. No início não vos sentia como banda, como se estivessem demasiado longe, como se existissem uma espécie de barreiras que vos separavam… mas com o avançar do concerto senti que se aproximaram, que gozaram juntos, e isso foi bonito. Do piano. Ver-vos aos dois. Da guitarra vermelha é tão bonitinha.
Gostei menos… de não poder, (conseguir ter lata de) saltar lá para frente e dançar. De não poder tirar fotos (foi muito chato, na realidade quero dizer horrível, ter aquela sra à perna…) De não ouvir pó de arroz =[ , só mais tarde me apercebi, porque senão tinha pedido. De que o publico, no seu conjunto, não fosse suficientemente… expansivo. Mas se querem um exemplo, eu fui com a minha prima que não conhecia muito da vossa música, contou-me que houve momentos em que estava boquiaberta, completamente absorvida! Creio que isso pode ter atingido muita gente, um encantamento que bloqueou. Que não tivesse durado… mais! Eu sei esta é assim pró parva e egoísta…
Fico curiosa para saber, Tiago: O que é para ti um bom concerto? Como ouvinte e como musico? É diferente, o bom?
Já agora…. Queria muito partilhar isto! Obrigada, foi tocante, intenso, belo, forte, intenso, arrepiante. Tenho fome de mais.
P.S. sei que está assim fora de sitio.. mas... desculpa.